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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Não dou pra coisa



Eu nunca fui uma pessoa corajosa. Pelo menos não corajosa no que diz respeito a situações que envolvam adrenalina.
Fico boba com gente que pratica esportes radicais, acho mesmo que deve ser uma sensação pra lá de prazerosa, mas de minha parte, agradeço.
Confesso que até já tentei na adolescência algo nesse sentido mas obtive êxito em nenhuma delas.
Primeiro tentei ser escoteira. Na verdade fui durante uma semana, até que chegou o fatídico dia do acampamento e uma das minhas tarefas era atravessar de um barranco a outro no meio do mato, deitada em cima de uma corda.
Não teve cristo que me fizesse chegar perto do barranco, quiçá da corda.
Passei dois dias “inesquecíveis” e –para mim – aterrorizantes.
Dormi em barraca, fiquei em volta de fogueira tentando impedir que mosquitos me carregassem dali – eu até pensei em usá-los como plano de fuga, mas não rolou.
Caminhei léguas mato a dentro esfolando as pernas, braços e rosto em galhos de árvores e arranquei o couro dos pés calçando uma botina horrorosa. A principio ela deveria proteger meus pés, acontece que com meias pouco apropriadas e os pés molhados- sim, entrar banhado a dentro fazia parte do pacote – elas contribuíram muito para a mutilação dos meus pés.
O banho era de imersão. Não fosse pelo fato de ser num córrego gelado, até me agradaria.
O toque de acordar, as 05h da manhã era bastante sutil. O chefe do grupo passava de barraca em barraca com uma buzina de som estridente ensurdecedor.
Totalmente desnecessário para quem como eu, passou a noite em claro imaginando o momento que algum bicho selvagem invadiria a barraca e devoraria a mim e aos colegas de “quarto”.
O café da manhã era passado numa panela torta e enferrujada, com o pó misturado na água morna. Fiquei só com a água.
Lá pelas tantas me mandaram encher o cantil do pessoal do grupo. Como se eu soubesse o que era isso. Quando eu descobri, me vi com uns 20 exemplares nas mãos. Considerando que a “torneira” natural mais próxima ficada a kms de distancia, e eu teria de levar os tais objetos pendurados no pescoço e depois trazê-los cheios, desejei saber que mal eu tinha feito a vida para estar sendo tão castigada.
Descobri ali meu total desacerto com a vida no campo.
Não gosto de mato, mosquito, fogueira, lampião e tenho verdadeira aversão à barracas. Me convide para acampar e perca a amiga. Me nego.
Desisti de ser escoteira.
Não dei pra coisa.
Certa vez, ainda nessas de testar minha radicalidade, resolvi andar no tal Barco Viking num parque de diversões de um shopping.
Lembro-me perfeitamente das duas subidas e descidas que ele deu, até que minha mãe intercedesse para o “maquinista” parar o brinquedo antes que eu morresse lá em cima. E era realmente uma questão de tempo.
Sensibilizado com minha cor fantasmagórica, o rapaz parou o brinquedo para que eu descesse. E quem disse que eu conseguia descer?
As pernas travaram de tal forma, que um segurança veio me tirar la de dentro. Jurei que nunca mais andaria nesses brinquedos.
Mas, por força da teimosia e do espírito adolescente facilmente influenciável, ainda fiz mais uma tentativa, desta vez num outro brinquedo em um parque do litoral.
Estávamos eu e mais duas amigas, e elas resolveram andar num brinquedo chamado Crazy Dance. O nome era simpático, mas nada mais era do que um negócio que girava sem parar e numa velocidade absurda. Girava para todos os lados possíveis e imagináveis, enquanto eu era sacudida e sentia como se os ossos estivessem soltando do meu corpo um a um. A cabeça, eu tinha certeza, seria desparafusada do pescoço a qualquer momento.
A coisa toda deve ter durado uns três minutos, se muito. Eu chacoalhei durante os três dias seguintes. Com a ajuda de algum ser piedoso, consegui chegar até em casa e vomitar até a alma.
Acordei com a sensação de ter tomado um porre sem precedentes. A cabeça girava e os ossos (aqueles que pareciam ter se soltado do corpo), pareciam ter sido triturados em seguida.
Não dei pra coisa [2]
Mas aí a pessoa cresce, tem uma filha que como toda a criança é uma destemida de plantão. E chega então a fase de levá-la ao parque.
Até que um dia, no parque da Xuxa, ela me convence a andar num brinquedo aparentemente inofensivo, cujo o carrinho dava algumas voltas e caia na água.
Pensei comigo: Não posso decepcionar. Inflei o peito e fui.
Infelizmente, havia uma parte do brinquedo que não era aparente, onde o carrinho descia uma ribanceira monumental antes de cair na tal piscina d’água.
Estávamos só as duas no carrinho. Ela a frente, entre minhas pernas e eu atrás a segurando.
Tudo ia bem, até que enxerguei a ribanceira. Foi a ultima coisa que vi.
Depois da volta completa, eu voltei do transe com a minha filha me sacudindo aos gritos: MANHEEEEE...PÁRA DE GRITAR E ME SOLTA!
Ela me ajudou a descer.
Ela. A pessoinha com 5 anos, me acalmando da histeria.
Hoje, quando minha filha me diz que sonha em conhecer a Disney, já posso vê-la voando as tranças nos mais inimagináveis brinquedos.
E me vejo também. Posando ao lado do Mickey, da Minnie e toda a turma para uma sessão de interminável de fotos.
Dos brinquedos, só chegarei perto para segurar sua mãozinha e levá-la até a fila se for preciso. Mais do que isso, me declaro incapaz.
Ela com certeza irá, pois a coragem que me falta, transborda nela.

A mim, resta a coragem de encorajá-la a fazer algo que eu definitivamente não tenho o dom.

Então tá!

Um comentário:

  1. Quem diria... escoteira! E a gente acha que conhece as pessoas! rsrs

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